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IFNMG celebra o primeiro Dia dos Povos Indígenas após revogação do “Dia do Índio” e reafirma compromissos com as comunidades originárias

Publicado: Quarta, 19 de Abril de 2023, 20h16 | Última atualização em Segunda, 16 de Outubro de 2023, 13h54
O IFNMG implementou o Abril Indígena com atividades, eventos e projetos ao longo de todo o mês. A foto se refere a uma das ações realizadas hoje, dia 19: estudantes do Campus Teófilo Otoni, acompanhados pelos professores e outros servidores do Instituto, visitaram a aldeia escola dos povos maxakalis de Itamunhec. A ação foi fomentada pelo NEABI do Campus Teófilo Otoni (Foto cedida pela comunidade maxakali de Itamunhec)
imagem sem descrição.

O ano de 2023 é o primeiro em que a expressão “Dia do Índio” deixa de ser usada neste dia 19 de abril para dar lugar ao Dia dos Povos Indígenas. A alteração, prevista na Lei nº 14.402, de 8 de julho de 2022, está fundamentada na inadequação do termo “índio”, que reduz e desconsidera a diversidade indígena e reforça estereótipos. A mudança foi provocada pelo próprio movimento indígena. Para comemorar esse avanço e potencializar a luta em defesa dos povos indígenas, servidores dos campi do Instituto prepararam ações, eventos e projetos para todo o mês de abril.

Foto de Renata  O termo "índio" corresponde "a um processo de dominação, pois reduziu ou apagou as identidades, as sociodiversidades e humanidades dos povos originários", por isso "índio" é uma palavra inadequada, conforme explica a professora Renata Ferreira

Além disso, há no IFNMG profissionais que desenvolvem projetos de Extensão e pesquisadores que estudam sobre os povos originários. A professora Renata Ferreira de Oliveira, do IFNMG-Campus Salinas, é uma das estudiosas da história indígena e é autora do livro “Índios Paneleiros do Planalto da Conquista: do massacre e quase extermínio aos dias atuais”. Ela explica o porquê da inadequação da palavra “índio”.

“Esse vocábulo uniformizou os milhares de povos que habitavam o território brasileiro. Trata-se de um termo que se refere a um processo de dominação, pois reduziu ou apagou as identidades, as sociodiversidades e humanidades dos povos originários. No Brasil, os indígenas foram denominados de ‘índio’, ‘negros da terra’, ‘gentios’, ‘bugres’. Cada uma dessas palavras expressava o racismo vigente desde o processo colonizador”, expõe Renata, doutoranda em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde desenvolve sua pesquisa também na área de história indígena, especificamente na região Jequitinhonha.

A doutoranda elucida que a expressão “povos indígenas” faz referência a indigenato ou originário, termos que correspondem a história do Brasil como uma grande terra indígena, vastamente habitada por sociedades originais, falantes de milhares de línguas, com sistemas culturais complexos. “Ou seja, o que hoje é Brasil, no passado era um território ocupado por povos originários. Reconhecer isso, significa reconhecer a diversidade dos povos originários”, destaca Renata.

Percurso da resistência indígena no IFNMG

Entre as atribuições do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Extensão Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI) no IFNMG está a de contribuir para a produção de conhecimentos e divulgação da importância da cultura negra, afrodescendente e indígena na formação do povo brasileiro e suas repercussões nos âmbitos local, regional e nacional. Desde o ano de 2012, ações e projetos são realizados de maneira mais potente.

Jhonisson
“Neste ano, para celebrar o mês da resistência indígena, os NEABIs dos campi estão realizando atividades setorizadas", explica o professor Johnisson Xavier, presidente do NEABI central 

O professor Johnisson Xavier Silva, presidente do NEABI central, dá um exemplo e conta que em 2021 foi realizado um Abril Indígena mais abrangente com cursos de formação e mesas de discussões com participações de lideranças indígenas, como Célia Xakriabá, que hoje é deputada federal.

“Neste ano, para celebrar o mês da resistência indígena, os NEABIs dos campi estão realizando atividades setorizadas. Por exemplo, no Campus Pirapora foi realizado o primeiro Fórum Indígena com representantes dos povos xacriabás e maxakalis para discutir as histórias dos povos indígenas da região. Já o Campus Teófilo Otoni realizou nos mesas redonda com a temática ‘Território e territorialidades dos povos indígenas do Vale do Mucuri’”, informa Johnisson Xavier que reconhece os progressos, mas manifesta que, “de modo geral, o debate em torno da temática indígena, no IFNMG, ainda ocorre de modo tímido e precisa ter avanços significativos”.

Para potencializar esse debate, o docente destaca que, apesar de o Instituto ter adotado a política de cotas para ingressos dos povos indígenas, há outras ações que podem contribuir para que mais estudantes indígenas possam ingressar e se manter no IFNMG. “Os povos indígenas do Jequitinhonha, Vale do Mucuri e Norte de Minas têm reivindicado vestibulares específicos, aumento das bolsas permanência e a aplicação da Lei 11.645/08, que cria a obrigatoriedade da implementação da história e cultura dos povos indígenas nos currículos escolares”, pontua o presidente do NEABI.

Quanto ao Programa Bolsa Permanência (PBP), o Ministério da Educação, que mantém o programa, divulgou hoje (19/04) que garantirá reajuste do valor da bolsa. AlunaNeste mês, os estudantes assistidos pelo programa já receberam o valor reajustado. O benefício passou de R$ 900,00 para R$ 1.400,00. O PBP consiste em uma ação do Governo Federal de concessão de auxílio financeiro a estudantes matriculados em instituições federais de ensino superior em situação de vulnerabilidade socioeconômica e para estudantes indígenas e quilombolas.

No IFNMG, a estudante indígena Witaty Braz da Silva, de 22 anos, é atendida pelo Programa Bolsa Permanência. Ela está no 9º período de Engenharia Agrícola e Ambiental, no Campus Araçuaí, e pertence ao povo pankararu e pataxó. “Moramos na Aldeia Cinta Vermelha Jundiba, onde preservamos a cultura e tradições como danças, cantos, histórias e comidas típicas. Pelo fato de eu morar na aldeia e ter que me deslocar até o campus, a bolsa que recebo é importante para me manter no Instituto”, afirma a acadêmica Witaty (foto acima). 

O acesso das comunidades indígenas ao Instituto

De acordo com a Plataforma Nilo Peçanha (PNP), que apresenta dados de todos os Institutos que compõem a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, em 2022, apesar de terem sido ofertadas 1090 vagas pelo IFNMG para a comunidade indígena, ingressaram 49 estudantes que se declaram indígenas. No que se refere ao número de matrícula e à classificação racial a partir da declaração dos estudantes, o menor percentual se refere aos estudantes indígenas no IFNMG.

O baixo número de estudantes indígenas se destaca pela discrepância em relação ao quantitativo de famílias indígenas na área de abrangência do IFNMG. Segundo a Secretaria de Documentação Eloy Ferreira da Silva (Cedefes), há no Norte de Minas, Noroeste de Minas, Jequitinhonha e Vale do Mucuri quase quatro mil famílias indígenas. O Cedefes é uma organização não governamental que tem o objetivo de promover a informação e formação cultural e pedagógica, documentar, arquivar, pesquisar e publicar temas do interesse do povo e dos movimentos sociais.

A professora Maria Flávia Pereira Barbosa, que está à frente da Diretoria de Assuntos Estudantis (DAE) do IFNMG especifica que o entorno regional do IFNMG conta com 23 comunidades indígenas e com aproximadamente 10 etnias distintas. Entre elas, as etnias aranã, caboclo, guajajara, maxakali, kramun e xacriabá. Esta - presente na região de São João das Missões e Itacarambi - possui o maior número de famílias, são 2.897 famílias indígenas segundo a Cedefes.

Foto Maria Flavia
"A presença das comunidades indígenas dentro da instituição transforma, não só do ponto de vista do convívio social, mas, especialmente, do aprendizado, uma vez que essas comunidades trazem conhecimento próprio e ancestral”, diz Maria Flávia, dirigente da Diretoria de Assuntos Estudantis. A diretora, por fim, reafirma o compromisso  do IFNMG com os povos originários

Ciente de que o IFNMG não alcança, ainda, as 23 comunidades indígenas e suas quase quatro mil famílias, a diretora Maria Flávia é direta em sua palavras: “A gente ainda não alcança todas as comunidades indígenas da nossa área de abrangência, com o objetivo de trazê-los para dentro da nossa instituição. Mas estamos trabalhando e pensando em alternativas para esse ingresso acontecer de uma maneira mais equânime e justa”.

A diretora ainda destaca que considera o Programa Bolsa Permanência um dispositivo fundamental para manter aqueles alunos que conseguem acessar a política pública de educação que o Instituto oferece. Outros mecanismos estão sendo potencializados para aumentar a presença indígena nos campi a partir de três compromissos alicerçados no tripé Ensino, Pesquisa e Extensão.

“O IFNMG tem um compromisso de respeito profundo com os povos originários, tem um compromisso de atendimento em formato de Extensão e agora estamos trabalhando na tentativa de construir um compromisso na vertente do Ensino. Isso porque a presença das comunidades indígenas dentro da instituição transforma, não só do ponto de vista do convívio social, mas, especialmente, do aprendizado, uma vez que essas comunidades trazem conhecimento próprio e ancestral”, fundamenta a diretora.

Dados sobre a classificação racial no IFNMG

Quantidade de etnias no IFNMG Os dados acima mostram, entre outros dados, o quantitativo de matrículas, vagas ofertadas, ingressantes e concluintes em 2022. A classificação indígena apresenta o menor índice. Observa-se ainda que o IFNMG oferta pelo sistema de cotas 1.090 vagas reservadas às comunidades indígenas
(Fonte:  captura extraída da Plataforma Nilo Peçanha 2023 - Ano Base 2022)


Número de matrículas e classificação racial entre os anos de 2018 e 2022

Dados PNP 2022Ao longo dos últimos seis anos, os dados  (faixa amarela) apontam que a presença indígena no IFNMG ainda é reduzida se comparado aos demais grupos étnicos. Os percentuais condizem com as informações declaradas, uma vez que há estudantes que não informam sua classificação racial 
(Fonte: captura extraída da Plataforma Nilo Peçanha 2023 - Ano Base 2022)

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