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As mulheres do IFNMG: números mostram que, apesar dos avanços, servidoras e alunas continuam enfrentando um cenário desafiador

Publicado: Sexta, 31 de Março de 2023, 19h56 | Última atualização em Segunda, 16 de Outubro de 2023, 13h57
No IFNMG, abrangendo as duas carreiras, há, no total, 1.614 servidores, sendo 694 mulheres (43%) e 920 homens (57%). Em relação ao corpo discente, as estudantes são maioria. Os dados mais recentes mostram que, nos cursos ofertados, há 15.798 estudantes mulheres e 9.938 estudantes homens. Esta foto foi tirada no dia 08 de março deste ano, na Reitoria, numa ação em homenagem às servidoras
imagem sem descrição.

Esta reportagem especial, assinada pela servidora e jornalista Andreia Pereira da Silva, foi produzida ao longo do mês de março, em referência ao Dia da Mulher. Os dados relativos aos servidores foram extraídos do Painel Estatístico de Pessoal (PEP), uma ferramenta do governo federal, criado pelo Ministério da Economia e lançado em 2017. Já os dados referentes aos estudantes têm como fonte a Plataforma Nilo Peçanha (PNP), implementada em 2018. Trata-se de um ambiente virtual de coleta, validação e disseminação das estatísticas da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, reunindo informações sobre as unidades que a compõem. Com a finalidade de expor a conjuntura atual, os números expressos no texto referem-se às disponibilizações mais recentes do governo federal, conforme atualização realizada neste ano. Os dados de pessoal têm como base o mês de janeiro de 2023, enquanto que as informações sobre os estudantes têm como referência o ano de 2021. Além disso, para a produção deste conteúdo, foram ouvidas vozes femininas do IFNMG ligadas à temática sobre relações de gênero e à luta pelo empoderamento feminino em todos os espaços da sociedade.


O mês de março, em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, é, de fato, um marco temporal importante. Mas o encerramento do mês aponta que 31 dias não são suficientes para relembrar as batalhas e as conquistas tampouco para reclamar direitos. Por isso, o Instituto Federal do Norte de Minas (IFNMG) faz questão de encerrar o mês reiniciando os trabalhos de luta e defesa da equidade de gênero.

Uma maneira de manter a luta sempre ativa consiste em “garantir que as vozes femininas sejam ouvidas e respeitadas por meio de diálogos cada vez mais equânimes e justos, dentro e fora do Instituto, nos 365 dias do ano”, afirma a reitora Joaquina Nobre, a primeira mulher a ser eleita para o cargo no IFNMG.

Ouvir e respeitar as mulheres não é uma tarefa fácil. Mas a força feminina nunca se calou. E diante de um novo cenário tecnológico, que potencializa as possibilidades de comunicação, resgatar informações e dados e torná-los acessíveis para toda a população também é uma forma de enfrentamento. Por isso, esta matéria especial sobre as mulheres do IFNMG, desenvolvida a partir de dados públicos, pesquisas e múltiplas vozes femininas, apresenta um diagnóstico e reflexões acerca da presença feminina no poder público, notadamente no IFNMG.

Ler este conteúdo é um convite para percorrer a história, interpretar números, compreender as relações de gênero e aderir à luta para que as mulheres sejam respeitadas e valorizadas e para que possam ocupar, cada vez mais, espaços de poder e decisão, contribuindo, desse modo, para um futuro próximo de pleno desenvolvimento e justiça social.

Números que escancaram a realidade

O Poder Executivo federal conta com 1.213.744 (um milhão duzentos e treze mil setecentos e quarenta e quatro) servidores, incluindo os com os vínculos ativo, aposentado e pensionista. Desse total, 500.591 (quinhentos mil quinhentos e noventa e um) são mulheres, representando 41,2%, e 713.153 (setecentos e treze mil cento e cinquenta e três) são homens, o que representa 58,8%.

No Ministério da Educação, órgão ao qual o Instituto Federal do Norte de Minas (IFNMG) está vinculado, a maioria masculina também prevalece. São 231.495 (duzentos e trinta e um mil quatrocentos e noventa e cinco) homens e 215.768 (duzentos e quinze mil setecentos e sessenta e oito) mulheres. Em termos percentuais, no MEC os homens constituem 51,8% da força de trabalho enquanto as mulheres, 48,2%.

A partir de um comparativo com dez anos atrás, constata-se um avanço pequeno. Em 2013, o número de servidoras em todo o Executivo federal era de 484.083 (quatrocentos e oitenta e quatro mil e oitenta e três) mulheres, número que corresponde a 39,2%.

Descontados ingressos e desligamentos, a diferença para os dados mais recentes é de apenas 2%, ou seja, depois de uma década, há atualmente 16.508 (dezesseis mil quinhentos e oito) servidoras a mais no governo se compararmos com 2013. No MEC, os números são mais animadores. Em 2013, havia 179.813 (cento e setenta e nove mil oitocentos e treze) servidoras; hoje são 215.768 (duzentos e quinze mil setecentos e sessenta e oito). Ou seja, 35.955 (trinta e cinco mil novecentos e cinquenta e cinco) mulheres a mais em relação a 2013.

Cenário de uma cultura patriarcal

Marcela SansA servidora Marcela Sans defendeu em 2022 sua dissertação sobre a baixa representatividade feminina nos espaços de poder e decisão. "Se a população feminina é comprovadamente maior no país, realmente devemos questionar o porquê de uma predominância masculinas em cargos de poder e decisão”, instiga a pesquisadora

A servidora do IFNMG Marcela Melo Moreira, que atua na Pró-Reitoria
de Gestão de Pessoas, defendeu no ano passado a dissertação de mestrado intitulada “A influência do patriarcado no acesso de mulheres a cargos de direção em Instituições Federais de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (IFEPCT) do Estado de Minas Gerais”. A pesquisa foi desenvolvida na Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia, e o interesse pelo tema partiu de uma inquietação pessoal.

“Em um dado momento, que antecedeu ao mestrado e à escolha do tema, eu estava como substituta do então diretor de Gestão de Pessoas e precisei participar de uma reunião de um dos órgãos superiores do IFNMG. Nessa ocasião, observei que das 17 cadeiras ocupadas, somente duas eram ocupadas por mulheres. Aquilo mexeu comigo”, relembra a servidora.

A percepção da pesquisadora deixou de ser uma hipótese. A baixa representatividade feminina nos espaços de poder e decisão tornou-se uma constatação após investigar cinco instituições federais, incluindo o IFNMG. Ao longo do estudo, Marcela considerou o patriarcado ainda vigente como direcionador de uma cultura que coloca as mulheres em uma posição desigual em relação aos homens. 

Entendendo a cultura patriarcal como aquela em que o poder e a autoridade são predominantemente exercidos pelos homens em detrimento das mulheres, Marcela também analisou outros fatores que dificultam o acesso das mulheres a espaços de poder e decisão. Os resultados da investigação foram elucidados a partir de dados, entrevistas e análises teóricas. “A principal barreira apontada pelas entrevistadas vincula-se às jornadas duplas e triplas de trabalho, levando-as a considerar, inclusive, que a limitação é de ordem pessoal e não institucional ou estrutural. As falas dessas mulheres carregam traços de uma cultura machista, misógina e patriarcal, chegando à crença de que as óticas apresentadas nessa pesquisa, na perspectiva mais conceitual, são desconhecidas por elas, uma vez que seus posicionamentos refletem posições bem individualistas e voltadas para a carreira, em desalinho com a proposta que se discute na atual ‘onda’ feminista - o empoderamento como sendo uma busca coletiva. Também se observa um desconhecimento sobre a influência do patriarcado”, registra Marcela em sua dissertação.

A reitora Joaquina, que também foi uma das três diretoras-gerais de campus ao longo dos quase 15 anos de IFNMG, concorda com os resultados da pesquisa e afirma: “Infelizmente, a mulher ainda está subjugada às duplas ou triplas jornadas. Somos servidoras, mães, filhas, esposas que não conseguem acessar esses espaços. De fato, na prática, um acúmulo de funções contribui para a não permanência ou para o impedimento da participação da mulher em cargos de gestão e liderança. E essa não é uma realidade apenas no IFNMG. Nas empresas, apenas 35% de mulheres ocupam cargos de liderança; no serviço público, os dados mais recentes mostram que mulheres em cargos de chefia representam 33% no funcionalismo público”, informa Joaquina.


...eu sei que por trás de cada servidora existe uma mulher, corajosa e potente, com competência e responsabilidade, para defender nossa missão institucional e tornar o IFNMG ainda mais atuante no que se refere à luta pelo empoderamento das mulheres e pela equidade de gênero, Joaquina Nobre, reitora do IFNMG


A reitora chama a atenção para outro dado importante. “A baixa representatividade feminina também é vista em eleições de mulheres para cargos políticos. Para se ter uma ideia, das 5.570 prefeituras que existem no Brasil, apenas 658 têm mulheres à frente do executivo municipal. Apesar dos avanços e das nossas conquistas, os números são desanimadores. Mas nós não podemos esmorecer. Os desafios são muitos, mas não são intransponíveis”, assegura a reitora.

Em relação ao estudo de Marcela, as suas conclusões foram provenientes, especificamente, dos fatores que influenciam o acesso de mulheres a Cargos de Direção (CD) no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) e nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs), localizados no Estado de Minas Gerais (MG). “Mas se a população feminina é comprovadamente maior no país, realmente devemos questionar o porquê de uma predominância masculinas em cargos de poder e decisão”, reitera a mestre em Administração, Marcela Sans.

E no IFNMG? O que os números dizem?

A Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, que institui os Institutos Federais, estabelece as seguintes carreiras: a carreira de Magistério do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT) e a carreira de Técnico Administrativo em Educação (TAE).

No IFNMG, abrangendo as duas carreiras, há, no total, 1.614 servidores, sendo 694 mulheres (43%) e 920 homens (57%). Esse quantitativo também abrange os servidores com os vínculos ativo, aposentado e instituidor de pensão. Considerando todos os vínculos, são 378 (54,47%) mulheres ocupantes dos cargos de TAE e 269 (38,76%) docentes mulheres da carreira EBTT. As demais são ocupantes de contratos temporários.

A estrutura organizacional do Instituto é composta por cargos de direção (CDs) e funções de confiança (FGs). Quem assume tais responsabilidades, ligadas ao desenvolvimento de atividades de direção, chefia e assessoramento, recebe um acréscimo na remuneração durante o exercício da atividade. Os servidores ocupantes de CDs estão hierarquicamente acima dos demais e detém remuneração maior do que os servidores que exercem funções.

No IFNMG, há 348 cargos e funções. O somatório de mulheres que ocupam cargos ou funções é 140 (40,2%); o de homens é 208 (59,8%). Enquanto há 25 (34,7%) mulheres em cargos de direção, 47 (65,3%) homens ocupam os cargos mais elevados no Instituto. Em relação às funções e gratificações técnicas, os homens também são maioria: 161 (58,3%) homens exercem essas funções. Já o número de servidoras com FGs é de 115 mulheres (41,7%).

Em janeiro de 2010, um ano após a criação da Rede Federal, quando existiam 120 cargos e funções no IFNMG, as mulheres ocupavam 38 (31,7%) e os homens ocupavam 82 (68,3%) deles.

Foto 3 Joaquina e outros diretores do IFNMG
O IFNMG conta com 1.614 servidores, sendo 694 mulheres e 920 homens. São 378 mulheres ocupantes dos cargos de Técnico Administrativo em Educação e 269 docentes mulheres. A maioria dos Cargos de Direção e das Funções de Confiança são exercidos por homens. A professora Joaquina Nobre (no centro da foto de vestido preto) é a primeira mulher, no âmbito do IFNMG, a ser eleita para o cargo de reitora. Ela também foi uma das três diretoras-gerais de campus ao longo dos quase 15 anos de Instituto. Na foto, acompanham a reitora diretores de campi, pró-reitores e diretores da estrutura de governança do IFNMG. Além da reitora, as duas mulheres da foto são (da esquerda para a direita): Karine Andrade Fonseca (de branco), diretora da Diretoria de Desenvolvimento Institucional, e Rosemary Barbosa da Silva Moura (vestido rosa), pró-reitora de Gestão de Pessoas

Dimensão racial

Na dissertação da servidora Marcela Sans, não há um estudo acerca da condição da mulher negra nos espaços de poder e decisão. Mas a autora fez questão de enfatizar em seu trabalho que uma pesquisa que trata de equidade de gênero precisa considerar também as dimensões raça e classe. “Porque se formos observar a dimensão racial, esses dados serão ainda mais destoantes”, presume a servidora, que pontuou em seu texto que “as mulheres negras são as mais atingidas um a vez que sofrem todos os tipos de discriminação: de gênero, de raça e de classe”.

O Painel Estatístico de Pessoal (PEP) do Ministério da Economia não permite filtrar os resultados de modo que sejam apresentados o quantitativo de mulheres pretas/negras dos órgãos vinculados ao cargo que exercem, aos cargos de direção e funções à remuneração, entre outros detalhamentos. O painel apenas mostra a quantidade de vínculos por órgão, sem especificar o sexo. No IFNMG são 145 servidores pretos (homens e mulheres), 697 servidores pardos, 1 indígena, 18 amarelos, 584 brancos e 169 servidores sobre os quais não há informações, no PEP, quanto à cor da origem étnica.


Em um dado momento, que antecedeu ao mestrado e à escolha do tema, eu estava como substituta do então diretor de Gestão de Pessoas e precisei participar de uma reunião de um dos órgãos superiores do IFNMG. Nessa ocasião, observei que das 17 cadeiras ocupadas, somente duas eram ocupadas por mulheres. Aquilo mexeu comigo”, Marcela Sans, servidora do IFNMG, da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas


As estudantes do IFNMG

Enquanto as mulheres são minoria no IFNMG, como servidoras e nos Cargos de Direção e nas Funções Gratificadas, elas são maioria nos cursos ofertados pelo IFNMG. Referente ao ano de 2021, segundo dados da Plataforma Nilo Peçanha, há no total 25.766 alunos, sendo15.798 estudantes mulheres e 9.938  estudantes homens. Também em relação aos números mais recentes de ingressantes no IFNMG,  as mulheres também são maioria: são 7.244 estudantes mulheres e 3.652 estudantes homens qie ingressaram no Instituto em 2021. Essa informação não é um dado isolado. Entre 2018 e 2021, o número de matrículas de estudantes mulheres sempre foi superior ao de matrículas de estudantes homens.

O número de inscritos nos vestibulares e nos processos seletivos não apresentam uma diferença discrepante entre homens e mulheres entre 2018 e 2021. O número de ingressantes em  2018 a 2021 também mostra superioridade em relação à entrada de estudantes mulheres. E o número de concluintes mulheres nesse período também é maior.

As mulheres e o espaço público

Joaquina Reitora do IFNMGA reitora Joaquina Nobre reconhece os desafios na luta das mulheres, mas garante que eles não são instransponíveis. "Uma maneira de manter a luta sempre ativa consiste em “garantir que as vozes femininas sejam ouvidas e respeitadas por meio de diálogos cada vez mais equânimes e justos, dentro e fora do Instituto, nos 365 dias do ano”, afirma Joaquina

Em 2015, a servidora Cabriella Novello de Andrade, mestre em Sociologia Política, pedagoga e professora de Arquitetura e Urbanismo do IFNMG-Campus Montes Claros, defendeu a dissertação de mestrado "A cidade e a (in)visibilidade feminina: relações de gênero na Montes Claros - MG”, em que estuda a in(visibilidade) das mulheres no acesso aos espaços públicos da cidade a partir da perspectiva das relações de gênero.

“Minha pesquisa nos ajuda a refletir sobre a distribuição sexual nos espaços da cidade, quanto a mobilidade, acesso ao emprego, número e qualidade de serviços comunitários, em especial, os que se destinam ao amparo de crianças e idosos, já que, de modo geral, as mulheres são responsabilizadas culturalmente a estarem vinculadas a esses serviços de amparo. No entanto, as mulheres são excluídas do centro de decisões no que se refere à cidade, à cultura e ao lazer, à melhoria da mobilidade para todos e para todas, bem como à segurança e aos fatores de insegurança na cidade”, explica a pesquisadora.

A análise de Cabriella permite entender que o espaço público, em todas as esferas, sempre foi hostil às mulheres. “O espaço não é só a dimensão material-concreta fixa e neutra onde as relações sociais se dão, ele constitui e é constituído pelas relações de poder que atravessam a sociedade. A incorporação do gênero como categoria abre caminho para a compreensão das desigualdades persistentes entre homens e mulheres. O gênero é abordado como um elemento constitutivo das relações sociais e como forma básica de configurar as relações de poder, superando a visão de que as reproduções dominantes são naturais e inquestionáveis”, destaca a estudiosa em sua dissertação.

Apesar de o estudo desenvolvido se concentrar no espaço público, na territorialidade e na arquitetura urbanística, Cabriella corrobora a possibilidade de sua investigação se estender às relações de gênero nos espaços do serviço público. “A correspondência entre os estudos sobre a cidade e sobre os espaços no serviço público, considerando as relações de gênero, suscita outras tantas reflexões de igual proeminência para se pensar como a estrutura atual dos ambientes dos serviços públicos atende às necessidades das mulheres”, reflete a servidora.

Nada sobre as mulheres sem as mulheres

Foto de Ana ClaudiaAna Cláudia Gonçalves de Sá Jardim é diretora-geral do IFNMG-Campus Teófilo Otoni. Dos 11 diretores de campi, eleitos para o mandato 2020-2024, ela é a única mulher

Mudar os números que mostram as desigualdades de gênero em todos os espaços públicos, incluindo os ambientes de trabalho no serviço público, não é uma tarefa só das mulheres. “Isso envolve mudanças na cultura organizacional, políticas de incentivo à diversidade no ambiente institucional, e principalmente o empoderamento feminino”, observa a diretora do IFNMG-Campus Teófilo Otoni, Ana Cláudia Gonçalves de Sá Jardim. Dos 11 campi do IFNMG, atualmente, ela é a única diretora de campus eleita para o mandato 2020-2024. Ana Cláudia conta que recebeu muitos incentivos e apoio para se candidatar ao cargo, mas reconhece que é necessário diversos e muitos avanços para alcançarmos um ambiente mais igualitário.

“A pouca concorrência de mulheres para ocuparem cargos eletivos é algo presente em várias instituições. Na minha opinião, isso resulta de um processo de socialização baseado em papéis sexuais tradicionais e discriminatórios. Aos homens caberiam atividades relacionadas à força, bem como o papel de provedor da família. Enquanto isso, as mulheres ficariam com as atividades domésticas. Esse preconceito está enraizado na sociedade. As mulheres são menos incentivadas a ocupar espaços de chefia e de gestão e, em alguns casos, elas mesmas se consideram menos qualificadas para concorrer”, evidencia a diretora.

Desde a criação do IFNMG, apenas três servidoras foram eleitas diretoras-gerais. Além da diretora-geral Ana Cláudia, também foram eleitas a professora Joaquina Nobre (atual reitora), que foi diretora-geral do IFNMG-Campus Pirapora entre 2016 e 2020, e a professora Maria Araci Magalhães, que foi diretora-geral do IFNMG-Campus Salinas de 2012 a 2016.Para Ana Cláudia, ampliar esse quantitativo de mulheres ocupando espaço de poder e decisão, de chefia e de liderança em todos os campos da sociedade, inclusive no IFNMG, passa também pela tomada de consciência das próprias mulheres.


“Precisamos tomar consciência de que somos tão eficientes quanto os homens, de que temos capacidade intelectual, técnica, física e competência para estarmos onde quisermos estar e para assumir cargos e funções estratégicas que requerem responsabilidade dentro da instituição, Ana Cláudia Gonçalves de Sá Jardim, diretora-geral do IFNMG-Campus Teófilo Otoni


“Precisamos tomar consciência de que somos tão eficientes quanto os homens, de que temos capacidade intelectual, técnica, física e competência para estarmos onde quisermos estar e para assumir cargos e funções estratégicas que requerem responsabilidade dentro da instituição. Podemos realizar tarefas que envolvem qualquer nível de dificuldade e podemos, sim, construir nossa vida e carreira de acordo com nossas próprias aspirações. Além disso, para ampliarmos a participação feminina, precisamos oportunizar condições para que as mulheres consigam exercer seus inúmeros papéis sociais – mãe, esposa, professora, empreendedora e/ou profissional de qualquer área”, argumenta a diretora do Campus Teófilo Otoni.

Retomando a fala da servidora Cabriella Novelo de Andrade, ela mesma conta que já recusou convites para assumir cargos de poder e decisão em decorrência de demandas impostas, culturalmente, às mulheres no âmbito pessoal. “São muitos os fatores que reproduzem a invisibilidade da mulher nos ambientes de poder. Naturalizou-se o 'cuidar' como função feminina.  No lar, ainda cabe à mulher o principal papel como administradora do cotidiano da família, vivendo em eterna corrida contra o relógio, tentando combinar e conciliar o emprego com os afazeres domésticos, com os horários da escola das crianças, com as contas a pagar, com o doente de quem tem que cuidar etc”, explica a professora Cabriella, que concorda com os fundamentos expresso por Ana Cláudia.

Foto de Cabriella NovelloA professora do IFNMG-Campus Montes Claros Cabriella Novello pesquisou, no mestrado, a in(visibilidade) das mulheres no acesso aos espaços públicos da cidade. Nesta matéria, ela relaciona seu estudo à condição da mulher no mercado de trabalho: "Precisamos refletir muito sobre as condições da mulher no ambiente de trabalho, tais como a flexibilidade do horário e do local para o exercício de suas atividades profissionais"

O papel imposto às mulheres como gestora da família também causa impactos no processo de formação e qualificação das mulheres estudantes. No que se refere ao corpo discente do IFNMG, Cabriella aponta que a predominância de estudantes mulheres no IFNMG e seus “resultados educacionais não se refletem forçosamente no mundo do trabalho. Temos como exemplo uma aluna formada no curso Técnico em Edificações. Ela fez estágio, foi contratada por ter competência, mas teve que se afastar do serviço pois sua avó adoeceu e precisou acompanhá-lo no tratamento. Quando pôde retornar, sua vaga não estava mais disponível. Até hoje ela está desempregada”, relata a coordenadora do Curso Técnico em Edificações do Campus Montes Claros.

Partindo desse exemplo, Cabriella salienta que políticas públicas deveriam acolher casos como esse. Por isso, ela defende que “a sociedade deveria entender que para essa mulher manter-se e manter sua família, ela precisa do emprego. Precisamos refletir muito sobre as condições da mulher no ambiente de trabalho, tais como a flexibilidade do horário e do local para o exercício de suas atividades profissionais. Se existir modelos de trabalho que apoiem as mulheres em suas responsabilidades familiares, ficará mais fácil para a mulher avançar na carreira e ocupar cargos de liderança”.

Não há dúvidas de que, se consultadas, as mulheres concordarão com a importância e a necessidade das ações apresentadas nesta matéria. A servidora Marcela Sans, a autora da dissertação “A influência do patriarcado no acesso de mulheres a cargos de direção em Instituições Federais de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (IFEPCT) do Estado de Minas Gerais”, compreende que a adoção de políticas afirmativas, conforme também sugerem Ana Cláudia e Cabriella Novello, nas instituições - contemplando um comitê de Equidade, Gênero, Raça e Diversidade - seria uma forma mais pontual para romper com a baixa representatividade feminina e enfrentar o patriarcado. “Isso porque não adianta somente que as mulheres ocupem cargos se o sistema de dominação-exploração se mantém vivo”, destaca a pesquisadora Marcela Sans.


“São muitos os fatores que reproduzem a invisibilidade da mulher nos ambientes de poder. Naturalizou-se o 'cuidar' como função feminina. No lar, ainda cabe à mulher o principal papel como administradora do cotidiano da família, vivendo em eterna corrida contra o relógio, tentando combinar e conciliar o emprego com os afazeres domésticos, com os horários da escola das crianças, com as contas a pagar, com o doente de quem tem que cuidar etc, Cabriella Novello, professora do IFNMG-Campus Montes Claros


A reitora Joaquina Nobre também concorda com as reflexões e os argumentos pontuados pelas vozes femininas desta matéria e corrobora a “relevância de ações e políticas públicas que mudem o cenário atual, garantam a participação das mulheres em espaços de decisão e fortaleçam a rede de apoio feminina por meio de laços que só a sororidade consegue unir e manter”.

E sobre as mulheres do IFNMG, a reitora faz questão de frisar que os números quanto à representatividade feminina nas funções e nos cargos de poder e decisão precisam ser ampliados “para que o IFNMG continue sendo instrumento de concretização de inúmeros sonhos espalhados pelo Norte de Minas, Jequitinhonha, Vale do Mucuri e Noroeste de Minas. Porque eu sei que por trás de cada servidora existe uma mulher, corajosa e potente, com competência e responsabilidade, para defender nossa missão institucional e tornar o IFNMG ainda mais atuante no que se refere à luta pelo empoderamento das mulheres e pela equidade de gênero”.

O mês de março termina, mas a luta das mulheres, a nossa luta, não tem fim. 


Os dados apresentados nesta matéria podem ser acessados por toda a população no Painel Estatístico de Pessoal (PEP) e na Plataforma Nilo Peçanha (PNP). Uma vez que esses dois ambientes virtuais são dinâmicos e intuitivos, a navegação permite que o usuário faça os próprios filtros, a fim de buscar os dados pelos quais se interessa.  Também é possível acessar informações que ajudam a aproveitar todos os recursos disponíveis no PEP e na PNP. Clique nas siglas para ser redirecionado às páginas que auxiliam no entendimento do uso dessas ferramentas.

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