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Formatura de cursos técnicos do Campus Montes Claros inclui dois alunos autistas e dois surdos

Publicado: Quarta, 20 de Abril de 2022, 11h47 | Última atualização em Quarta, 20 de Abril de 2022, 11h50
Yuri, Márcio, Marcos e Caio em momento de comemoração na noite dessa terça, 19
imagem sem descrição.

A noite de ontem, 19, foi de festa no IFNMG-Campus Montes Claros, com a cerimônia de formatura dos cursos técnicos em Informática, Química, Edificações, Eletrotécnica e Segurança do Trabalho. Um momento celebrado com grande alegria por todos os formandos, mas, para quatro deles, a conquista era ainda mais significativa e digna de comemoração. São eles Caio Neri Mendes Santos, o primeiro aluno do Instituto com transtorno do espectro autista, e o irmão, Yuri Neri Mendes Santos, também autista; Márcio Lucas Silva Andrade e Marcos Jonas Pimentel Figueiredo, surdos.

Além de motivo de festa para os formandos e seus familiares, é emblemático que a formatura de Caio e Yuri aconteça em abril, mês escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para a conscientização mundial sobre o transtorno do espectro autista.

Primeiro autista

A caminhada do primeiro aluno autista do IFNMG começou em 2016, quando Caio ingressou no curso técnico em Informática integrado ao ensino médio, por meio do Processo Seletivo. Foi um caminho mais longo e difícil do que o dos colegas, mas, segundo a mãe, Keilia Marielle Neri Santos, marcado por uma grande persistência e garra do aluno em mostrar que era capaz. “Eu fiquei muito feliz, que finalmente eu formei, porque fiquei muito tempo na escola. Finalmente vou poder pegar meu diploma e procurar trabalho”, comemora. Entre os sonhos e planos de Caio para o futuro, estão também viagens para o exterior.

“A sensação que estou sentindo hoje, com a formatura de Caio, é algo surreal”, enfatiza a mãe do formando, Keilia Marielle Neri Santos, emocionada. “Estamos fazendo de tudo para que seja um momento inesquecível para ele , com faixa, banner, apito, bandeirola, tudo o que ele tem direito, para que ele sinta que merece, mais do que qualquer um, comemorar o dia de hoje.” De acordo com Keilia, que é pedagoga e psicopedagoga, além do próprio filho, todos aprenderam muito ao longo dessa trajetória, ela mesma, os professores e demais profissionais do Instituto e demais alunos.

Keilia lembra que estudar no IFNMG foi um desejo manifestado pelo próprio filho, que queria estudar na escola que tinha armários para os alunos, como as escolas de primeiro mundo - nas palavras de Caio - e laboratórios de informática, mesmo sabendo que teria que repetir o primeiro ano do ensino médio, já cursado em uma escola estadual.

Apesar de contar com a dedicação e o apoio da mãe, que tentava conduzir as adaptações necessárias para que Caio acompanhasse os conteúdos e as atividades, no início do curso, o aluno passou por dificuldades para acompanhar as disciplinas e para se orientar espacial e temporalmente na escola, porque ainda não contava com um profissional de apoio educacional especializado, direito garantido por lei. A novidade da situação – Caio foi o primeiro aluno autista do IFNMG – e a inexperiência em relação à contratação desse profissional externo atrasaram o processo. A professora de apoio educacional especializado, Glaucilene Alves Barbosa, foi contratada no segundo semestre de 2017.

Segundo o professor Geraldo Viégas Vargas, que acompanhou de perto a trajetória de Caio enquanto membro do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas (Napne) do Campus Montes Claros – integrado por uma equipe multidisciplinar dedicada a atender os alunos com necessidades específicas -, a professora contratada procurou desenvolver no aluno a sua própria maturidade e autonomia frente às proposições de cada disciplina. De acordo com Geraldo Vargas, houve também, por parte de Caio, facilidade de entendimento em relação à maneira dessa professora de apoio ensinar e explicar os diversos conteúdos, de forma que ela conseguiu despertar o interesse do aluno, com isso, ele obteve êxito, comprovado pelas aprovações conquistadas.

A figura da professora de apoio educacional especializado também foi fundamental, segundo Geraldo Vargas, para a socialização do aluno, que é uma dificuldade típica dos autistas. No início, Caio encontrava muitas dificuldades em socializar com os colegas, não conseguia iniciar um diálogo e nem mantê-lo por muito tempo. “Mas, aos poucos, com a intervenção da professora de apoio, que o estimulava a participar de equipes em apresentações de trabalhos e rodas de conversa, a interação com os colegas foi ocorrendo durante os intervalos e nas aulas”, conta o professor. Outra ação que favoreceu o desenvolvimento das relações sociais do aluno foi a apresentação de Caio pela professora Glaucilene a todas as turmas, para falar de autismo e inclusão.

“Hoje ele é uma outra pessoa por causa dessa socialização com pessoas da sua faixa etária”, garante Keilia Santos, a mãe de Caio.

Além de ser o primeiro aluno do IFNMG a contar com professor de apoio educacional especializado, Caio foi o primeiro do Campus Montes Claros a ter o currículo flexibilizado. O professor Geraldo Viégas afirma que esse fator foi fundamental para a permanência, o sucesso e o êxito do estudante no curso. Como os cursos técnicos integrados ao ensino médio têm, em média, de 16 a 18 disciplinas em cada ano letivo, “com a dilação de prazo, foi possível ao aluno assimilar tantos conteúdos das diversas disciplinas em um prazo maior, pois o que todos buscavam era que Caio obtivesse um aprendizado sólido e significativo nas disciplinas do curso”, afirma.

Ao analisar a trajetório de Caio no IFNMG e tudo o que o Instituto pôde aprender com essa experiência, Aline Silvânia, da Coordenadoria de Ações Inclusivas da Reitoria, que acompanhou todo o processo, ressalta que ele abriu portas para outros alunos. E também mostrou para toda a comunidade do Instituto “o quanto o processo de inclusão é importante e necessário”, frisa.

Outras conquistas

Ontem, a família de Caio tinha motivos em dobro para comemorar. Era também a formatura do irmão, Yuri Neri Mendes Santos, no curso técnico em Edificações, na modalidade concomitante/subsequente ao ensino médio. Yuri também é autista, mas num grau de comprometimento inferior ao de Caio. Ele também contou com um profissional de apoio educacional especializado durante um período do curso, mas não necessitou de flexibilização curricular nem aumento de prazo para concluir o curso.

“Yuri foi um aluno que se sobressaiu durante todo o curso, por ser muito comprometido, dedicado e inteligente”, afirma o professor Geraldo Vargas. Qualidades que lhe valeram, entre outros, a recente aprovação para o curso de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) e a escolha como juramentista da turma para a solenidade de formatura de ontem.

Outros dois formandos do técnico em Edificações, concomitante/subsequente, que receberam seus certificados ontem, também necessitaram de apoio diferenciado para os estudos, mas por outro tipo de necessidade especial. Márcio Lucas Silva Andrade e Marcos Jonas Pimentel Figueiredo são surdos e contaram com o apoio da intérprete de Libras Luiza Leyllane Oliveira ao longo do curso. Além disso, o Napne do IFNMG-Campus orientou todos os professores a fazerem adaptações nos conteúdos para favorecer a acessibilidade desses alunos.

 

Confira mais fotos da cerimônia de formatura da noite dessa terça-feira, no IFNMG-Campus Montes Claros:

formatura_moc_capa.jpg

 

formatura moc formandos geral

 

formatura moc mesa de honra

 

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